sábado, 20 de junho de 2009

Autobiografismo biodegradável.

...

Aquilo que minha mãe pariu – ou seja,
um predefunto embalado
em perfume de muco – sou eu.
Deram-me dois tapas como dita o manual,
E algo bastante similar a um choro
mas que não passa de uma tentativa
barata de chamar atenção, soou sob protesto.
É isso, garantiram-na: está vivo.
Corrigi-os instantes depois
encenando um prático deslocamento de pleura.
Foram todos a loucura( momento de glória!)
Depois vieram os percalços, as dívidas,
as obsessões, as manias, as patologias, os amores,
as farsas, os copos de cerveja vazios
e o hálito de hortelã que eu esqueci de comprar,
e dois cigarros e alguns livros.
Nada mudou.
Hoje escrevo
à tapas,
com o mesmo perfume de muco da mamãe,
encenando um pneumotórax crônico que não engana mais ninguém.

...

Nenhum comentário:

Postar um comentário